sábado, 5 de maio de 2012

CÃO! CÃO! CÃO!

                                                                                 Millôr Fernandes

Abri a porta e vi meu amigo que há tempo não via. Estranhei apenas que ele viesse acompanhado de um cão. Cão não muito grande, mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Cumprimentei meu amigo com entusiasmo. Ele, com uma expressão de felicidade, abraçou-me calorosamente e já começou a contar as novidades.

Aproveitando as saudações, o cão se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. Eu encompridei um pouco as orelhas, mas o meu amigo fez um ar de que a coisa não era com ele.

O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou no quarto e novo barulho de coisa quebrada. Esbocei um sorriso amarelo, esforçando-me para conter o nervosismo. Já o meu amigo mantinha uma postura de indiferença.

De repente, o cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e deixou lá as ma
Por fim, o meu amigo se foi. Mas ainda ia indo quando eu lhe perguntei:

 — Não vai levar o seu cão?

— Cão? Cão? Cão? — pôs-se a repetir ele, admirado. — Ah, não! Não é meu não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?

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