Bornéu é uma grande ilha da Indonésia, localizada no Oceano Pacífico, mais ou menos entre a Austrália e a China e próxima a outras grandes ilhas como Java e Sumatra. Seu clima é tropical, a vegetação é constituída de muitos coqueiros e os nativos vivem em casas construídas de madeira, palha e folhas de coqueiros, semelhantes às casas dos nativos que vivem aqui na América tropical.
Lá pelo ano de 1960 a OMS (Organização Mundial da Saúde), desejando combater os pernilongos que transmitem a malária aos habitantes da ilha, decidiu fazer uma grande aplicação de inseticidas. Usando aviões e outros equipamentos, aplicou verdadeiras nuvens de DDT em todo o território, abrangendo matas, plantações, casas etc.
O primeiro resultado observado foi magnífico! Morreram, praticamente, todos os pernilongos da ilha, e seus habitantes viram-se livres não só da malária, mas também daquelas picadas incômodas que sofriam à noite, em suas casas, ou mesmo de dia, nas sombras dos bosques. Mas algumas coisas estranhas começaram a acontecer em todo o território de Bornéu.
Infelizmente, o DDT não matava apenas os pernilongos. Matava, também, outros insetos, como abelhas, besouros, baratas etc. Alguns desses não chegavam a morrer, mas ficavam meio tontos e incapazes de se esconder com rapidez quando atacados pelos... Lagartos de Bornéu! Aconteceu que o lagarto de Bornéu é um grande comedor desses insetos maiores _ besouro e baratas _ e agora, tendo alimento tão fácil de apanhar, todos eles fartaram-se de comer insetos e apanharam uma bela indigestão!
A verdade é que os lagartos não sabiam que aqueles insetos estavam envenenados... e, comendo-os, ficaram, também, meio paralisados, sem poder correr e, portanto, sem poder fugir dos gatos! Desse modo, os gatos passaram a contar com um novo petisco que nunca haviam provado antes: deixaram de perseguir seus ratos e passaram a se alimentar de carne de lagarto. Naturalmente, carne envenenada... Cada lagarto tendo comido centenas de insetos, já acumulava, em seu corpo, uma grande quantidade de DDT.
Conseqüentemente, cada gato, comendo cinco ou dez lagartos, adquiria uma dosagem fatal: e morria!
É natural que, morrendo os gatos, os ratos passassem a proliferar abundantemente. Bornéu passou a sofrer de uma verdadeira invasão desses roedores. Alarmados, os técnicos da OMS providenciaram rapidamente uma grande remessa de gatos para a ilha, restabelecendo rapidamente o controle da situação.
Mas aí é que veio o pior: as casas dos nativos, construídas de ripas e palhas de coqueiros, começaram a cair! O assunto foi logo estudado pelos especialistas da OMS, que descobriram o seguinte: existe um inseto _ uma espécie de “baratinha” que se alimenta vorazmente de palha de coqueiro. Só que, normalmente, esse inseto não atingia números muito grandes porque o lagarto de Bornéu não deixava: ele gostava muito de comer essas baratinhas. Com o desaparecimento do lagarto, esses insetos não tinham mais limites à sua reprodução, e comiam toda a palha de coqueiro que encontravam pela frente!
A OMS não teve outra solução: procurou, nos continentes, outro tipo de lagarto semelhante àquele de Bornéu e transportou-o em grande número para a ilha.
(Samuel M. Branco. Natureza e agroquímicos. São Paulo, Moderna, 1990. p. 8-12)
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