4 de janeiro. Querido diário: amanhã vamos procurar um lugar para acampar. Não agüento mais essa cidade.
7 de janeiro. Querido diário:achamos um lugar maravilhoso para camping. É tão bonito que papai combinou com uns amigos para voltarmos.
11 de janeiro. Querido diário: foi fantástico. H avia mais de dez casais com crianças, apaixonados pela natureza. Limpamos um pouco o local, derrubamos algumas árvores e agora há mais espaço para todos. 2
2 de janeiro. Querido diário: o camping está cada vez melhor. O s vendedores ambulantes descobriram nosso acampamento e agora se pode comprar tudo lá. O número de famílias aumentou muito e já tem gente que nunca vi mais gorda. Já tem churrasqueiras e sanitários.
3 de fevereiro. Querido diário: conheci um amigo,Paulo. O pai dele é dono de uma farmácia e isso foi sorte porque sempre se precisa de quem entenda de saúde no mato. Ah, fizeram umas ruas pelo meio da floresta. Falam em instalar água e luz no camping. É mais conforto.
27 de fevereiro. Querido diário: instalaram água e luz. Em boa hora, porque o camping está tão grande que precisava mesmo. O s ambulantes decidiram que é melhor ficar fixo lá e montaram umas tendas que não fecham a semana inteira, de tanta gente que vai lá. Paulo disse que o pai dele vai botar um ambulatório lá.
8 de março. Querido diário:hoje eu resolvi conhecer o camping todo. Sabe, eu e o Paulo levamos mais de hora para percorrer o lugar. Acho que vem gente de toda a parte para aproveitar o clima e a paisagem. Assistimos a uma discussão por causa do espaço que virou briga. Felizmente, o camping tem polícia permanente e tudo se acalmou logo. Parece que vai haver um posto policial na área. N a zona nova do camping já tem um pessoal que em vez de barracas faz cabanas lá e estão passando temporadas inteiras sem sair da região.
2 de abril. Querido diário: tive uma surpresa, hoje. Tem telefone no camping. É só uma cabine da companhia telefônica, mas é possível que em seguida se instale uma central. Outra novidade: o pai do Paulo levou a farmácia dele pra lá. Fica na avenida principal e como tem muitas lojinhas e casas comerciais eles se reuniram e estão pedindo calçamento no camping. Depois da janta fomos à primeira sessão do cineminha do camping.
11 de julho. Querido diário: o banco do papai tomou uma decisão das boas: abriu uma filial lá e deu a gerência pro velho. Mudamos logo para uma casa alugada por uma grana sem fim (aqui tem especulação imobiliária também), meio longe mas confortável. O pessoal da associação de bairros elegeu papai como presidente. A reunião da posse não foi boa: todo mundo se queixou que não deu pra ouvir o discurso de papai por causa do barulho da construção do edifício do centro comercial (nove andares) ao lado. Ontem vimos uma barraca de lona. Incrível.
29 de julho. Querido diário: papai ficou irritado com o camping. Houve um engarrafamento na nossa quadra e ele não pode ir pescar. Talvez compre uma casa fora do centro. Fico longe do Paulo, mas há a linha de ônibus. Quem reclama são os caras dos arrabaldes; pra eles é difícil ter que vir até aqui onde tem padarias, lavanderias, oficinas, hospital etc. Começaram, aliás, a construção do aeroporto. E a central telefônica ficou uma beleza.
15 de setembro. Querido diário: li no jornal do camping que em breve teremos uma estação de tevê. Chega de ouvir só aquelas rádios com comerciais. Iniciaram uma campanha de plantar árvores e cuidar mais da água. Isso é bom pro camping. Conscientizar o povo, né? A polícia tem muito trabalho é com os marginais. Fora isso, nós acreditamos no progresso do Camping, como diz papai.
26 de outubro. Querido diário: Paulo trabalha numa firma metalúrgica. É a maior chaminé do camping. O trânsito está maluco. A vida aqui está cara. Fiz quinze anos. A poluição das indústrias incomoda. Vêm aí as eleições para prefeito do camping. Estão removendo vilas pobres inteiras para longe. Aconteceu um suicídio. Falta luz. O time do camping não entrou no nacional. Assaltaram outra vez o supermercado.
6 de dezembro. Querido diário: amanhã, vamos procurar um lugar para acampar. Não agüentamos mais essa cidade.
Fonte: Fraga,J. G . In:Ficção. Rio de janeiro,n.16,abr.,1977.
http://wwwducilenegestar.blogspot.com/2009/09/relato-de-experiencia-texto-canping.html
Show... é isto que fazemos, adoecemos e procuramos um lugar pra lembrar quem somos, mas viciados por comodidades e deseducados na sensibilidade e respeito, acabamos por seguir adoecendo tudo por onde vamos...
ResponderExcluirA realidade é que o ser humano por mais que tudo esteja perfeito nunca está satisfeito. Acha que pode ser Deus, mas se esquece que Deus é perfeito como todos os seus desígnius. Já o homem, é sempre incoerente e em suas decisões prevalece o ser que visa o lucro, as divisões,ou seja prevalece a mesma essência pré-histórica.
ResponderExcluirGisele Guarulhos
ResponderExcluirAs pessoas estão tão frenéticas pelo progresso e desenvolvimento que esquecem que estão na verdade matando tudo o veem pela frete, fazendo até mesmo com que o campo se transforme numa cidade poluida, intransitável e insuportavel.
As coisas vão mudar quando tivermos políticos sérios comandando nosso país.O exemplo vêm de cima.
ResponderExcluirEU ACHO QUE O PROBLEMA NÃO É SÓ DOS POLÍTICOS,E SIM DE TODOS NÓS.AINDA PENSO QUE É TARDE DEMAIS P/ QUE ALGO SEJA FEITO PELO PLANETA.SE CONSCIENTIZARMOS AS PESSOAS PELO A CONSERVAÇÃO DO PLANETA,E NÃO PIORAR MAIS AS COISAS, TEREMOS UM GRANDE FEITO.
ResponderExcluirEssa é a nossa realidade, não preservamos a natureza do jeito que ela é e dessa forma contribuímos para a destruição das nossas matas, rios e mares.
ResponderExcluirO incentivo a conscientização vem de casa e da escola, para uma geração mais educada e respeitadora, pois não é apenas com palavras que mudaremos o mundo e sim com atitudes começando por nós mesmos.
ResponderExcluir