sábado, 16 de abril de 2011

VIDA DE PAPEL

Estava sossegado no meu canto, quando o homem me abriu e me encheu de pipocas. Sem a menor cerimônia, uma mulher me pegou e foi me levando.


Ela comia as pipocas com olhos, boca e dentes de muita fome.

Quando acabou, meteu a boca dentro de mim, soprou um grande sopro e eu comecei a estufar, estufar... Bum!!! Tudo chacoalhou! Um terremoto?

Não era, não! A rua continuava no mesmo lugar, com as pessoas apressadas, as buzinas tocando... Tudo nervoso, mas normal.

A mulher deu uma gargalhada e sem mais nem menos me deixou cair ali, no meio da rua!

Mal tinha me levantado, quando veio um carro a toda velocidade pra cima de mim! Só me livrei daquele amasso achatante porque uma ventania me empurrou pra calçada.

Vi um guri esquisito vindo pro meu lado.Ele começou a me chutar, sem a menor consideração. Logo eu, que não tinha feito nada! Fui rolando rua abaixo até que ele resolveu seguir em frente, sozinho. Foi embora sem nem dizer um “muito obrigado” ou “desculpe o mal jeito”.

Fui, assim, me desviando dos pés que ameaçavam me pisar, sem rumo nem destino, quando uma coisa peluda se aproximou. Foi me arrastando para uma pá e da pá eu caí em uma lata. Lá dentro estava cheio de coisas.

A casca de laranja, cheirosa como sempre, foi logo me entrelaçando em um abraço. Um papel amassado e sujo disse pra eu não me envergonhar por ter ficado meio amarrotado.Estava entre amigos e senti que ali era o meu lugar.Um botãozinho quebrado contou que tinha caído da blusa de uma dona em um elevador. Quase se perdeu em um tapete felpudo.Foi um aspirador que o salvou. Mas, todo agitado, o botão disse que a melhor aventura vem agora: uma longa viagem nos esperava!

Ele estava certo. À noitinha, um caminhão bem “maneiro” me levou com minha turma. Demos adeus à amiga casca, ao bagaço de milho e à paçoquinha embolorada.

Encontramos garrafas, outros papéis, latinhas charmosas e vidros bons de papo.Fomos parar em um lugar grande, com esteiras e máquinas.Fiquei tão amigo de uns papéis, que, inseparáveis, fomos unidos pela máquina. E a melhor das surpresas: tudo aquilo estava ali só pra nos embelezar e nos deixar úteis de novo.

Virei folha de caderno, junto com os meus amigos! Nunca tinha imaginado que era tão importante pra ter um tratamento tão especial como esse!

Das prateleiras de uma loja fomos parar nas mãos de um garoto. Éramos brancos, mas ele desenhou uma árvore cheia de flores e frutos coloridos em cima da gente. Nos arrancou do caderno e nos pregou numa parede. Estamos em uma sala onde sempre há crianças. Até hoje elas se aproximam e ficam nos admirando. Vocês podem acreditar nisso?!

De saquinho de pipoca a vida de artista!

Como sou feliz!

Rosana Skronski

CRIANÇAS VÊEM, CRIANÇAS FAZEM

CACHORRO VELHO

Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido. Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço. O cachorro velho pensa:


-”Oh, oh! Estou mesmo enrascado !” Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador … Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:

- Cara, este leopardo estava delicioso ! Será que há outros por aí?

Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores.

- Caramba! pensa o leopardo, essa foi por pouco ! O velho vira-lata quase me pega!

Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia comido leopardo algum…

E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Entrementes, o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa:

-Aí tem coisa!

O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo. O jovem leopardo furioso por ter sido feito de bobo, e diz: -’Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado!’

Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:

- E agora, o que é que eu posso fazer?

Em vez de correr ( sabe que suas pernas doídas não o levariam longe…) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:

- Cadê o filha da puta daquele macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca!

Disponível em: http://estereotipos.net/2008/03/05/cachorro-velho/ (acesso em: 16/04/2011)

SEM NOME

Numa sorveteria de Porto Alegre, faltou plaquinha para nomear um sorvete.


São quarenta sabores, somente um desprovido de batismo. Todo mundo que é atendido fica curioso com aquele pote no canto, anônimo. Vi gente coçar a barba, o cabelo, o umbigo diante do mistério gelado. Como se fosse um enigma. Uma rua ainda não pavimentada pela boca, infantil, em que as crianças jogam bola de uma garagem a outra sem se preocupar com a movimentação dos carros.

É mortal: das duas ou três bolinhas escolhidas, uma delas é justamente o sem nome, agora Sem Nome, pois de tanto ser chamado de Sem Nome acabou sendo esse o seu nome. Chocolate com amêndoas, pistache, morango e crocante; os gostos tradicionais foram superados na lista dos pedidos. O Sem Nome é o que mais sai, justamente porque ninguém sabe ao certo o que está lambendo e há o temor de perguntar do que se trata. O receio de esgotar o segredo e frustrar a brincadeira de cabra-cega.

O mesmo acontece com o amor. Quando não se entende o que se sente é a melhor parte. O trecho da paixão, a vontade de se aproximar sem pensar. A vontade de se encontrar para permanecer mudo. A vontade de telefonar para não dizer coisa alguma, apenas respirar ofegante e gemer diante do aparelho como operador do telessexo. Os namorados se beijam loucamente nem sempre para beijar, e sim para não ter que falar. As palavras são incômodas. A palavra destrói o amor, o beijo cura.

O amor também tem seu sorvete Sem Nome. E o que não será declarado apesar de longa convivência. É o que deveria ser dito no início, mas a ansiedade não deixou, o que deveria ser dito no final, mas já se tinha intimidade. Um tremor, um desespero alegre. Um apego pelo cheiro do pescoço. Um apelo pelo cheiro adocicado e selvagem do sexo no quarto. Um apego pelo cheiro dos travesseiros tomando sol na janela. Até um apego pelo cheiro de guardado do guarda-chuva, pelo cheiro de guardado do blusão na parte de cima do armário, pelo cheiro de guardado das lembranças.

O amor é o Sem Nome. Olhar para um filho aprendendo a escrever com uma das letras ao contrário e rir comovido daquele "E" caminhando na contramão da linha. E perguntar para a letra: "onde vais?" e não corrigir para segui-la.

A DR (Discutir a Relação), por exemplo, nunca tem fim. Não é para ter fim. Pois ninguém conseguirá aclarar por que se ama ou por que se deixa de amar. O casal pode varar madrugadas debatendo o comportamento, o que é certo e o que é errado, o que é justo ou injusto, só que não chegará a nenhuma conclusão. Chegar a nenhuma conclusão é o Sem Nome. As discussões terminam pelo cansaço ou pelo sexo. Não se encerram porque foram resolvidas, não se pode definir aquilo que é maior do que a própria vida. Duas vidas juntas são mais difíceis de serem resumidas. Não é como tese, que vem com uma sinopse na primeira página.

Recapitula-se o que se viveu e teremos uma seqüência desordenada de imagens, um videoclipe sem música. Entende-se o que se ama pela ausência de esclarecimento. O absoluto entendimento parte da confusão: será que estou ou não estou amando? Quanto mais confusos, mais intensos.

Enquanto não tivermos palavras para explicar, continuaremos amando. Por isso, deixo a bola de sorvete do Sem Nome ao fundo, para comer com a casquinha e fazer bastante barulho com os dentes."


Fabrício Carpinejar

Disponível em: http://missdogma.blogspot.com/2010/12/do-outro-lado-da-calcada.html (acesso em 16/04/2011)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

PARA OS PAIS - OS 10 MANDAMENTOS DOS DEVERES DE CASA

1. Jamais faça a lição por seu filho ou permita que outros o façam (avós, empregada, irmão mais velho, amigo). Tenha clareza de que a lição é de seu filho e não sua, portanto, ele tem um compromisso e não você. Deixe-o fazendo a sua tarefa e vá fazer algo seu. Ele precisa sentir que o momento da tarefa é dele.

2. Organize um espaço e um horário apropriados para ele fazer as tarefas.

3. Troque idéias ou formule perguntas para ajudar no raciocínio, mas só se for requisitado. Não dê respostas, faça perguntas, provoque o raciocínio.

4. Oriente, a correção fica a cargo do professor. Importante: não vale apagar o erro de seu filho. Quem deve fazer isso é o professor. Aponte os erros (torne o erro construtivo).

5. Diga “tente novamente” diante da queixa. Refaça. Recomece. Caso seu filho perceba que errou, incentive-o a buscar o acerto ou uma nova resposta. Demonstre com exemplos que você costuma fazer isso. Nesse caso, valem os itens anteriores para reforçar este.

6. Torne o erro construtivo. Errar faz parte do processo de aprender (e de viver!). Converse, enfatizando a importância de reconhecermos os nossos erros e aprendermos com eles. Conte histórias que estão relacionadas a equívocos.

7. Lembre-se de que fazem parte das tarefas escolares duas etapas: as lições e o estudo para rever os conteúdos. As responsabilidades escolares não findam quando o aluno termina as lições de casa. Aprofundar e rever os conteúdos é fundamental.

8. Não misture as coisas. Lição e estudar são tarefas relacionadas à escola. Lavar a louça, arrumar o quarto e guardar os brinquedos são tarefas domésticas. Os dois são trabalhos, no entanto, de naturezas diferentes. Não vincule um trabalho ao outro, e só avalie as obrigações domésticas.

9. Não julgue a natureza, a dificuldade ou a relevância da tarefa de casa. A lição de casa faz parte de um processo que começou em sala de aula e deve terminar lá. Se você não entendeu ou não concordou, procure a escola e informe-se. Seu julgamento pode desmotivar seu filho e até mesmo despotencializar a professora e, conseqüentemente, a tarefa de casa e seus objetivos.

10. Demonstre que você confia em seu filho, respeita suas iniciativas e seus limites e conhece suas possibilidades. Crie um clima de camaradagem e consciência na família, mas não deixe de dar limites e ser rigoroso com os relapsos e irresponsabilidades.

Disponível em: http://professoraeliene.wordpress.com/2010/03/09/para-os-pais-10-mandamentos-do-dever-de-casa/#comment-24

CONVERSA ENTRE DUAS CRIANÇAS DO SÉCULO XXI

- E aí, veio?
- Beleza, cara?
-  Ah, mais ou menos. Ando meio chateado com algumas coisas.
- Quer conversar sobre isso?
- É a minha mãe. Sei lá, ela anda falando umas coisas estranhas, me botando um terror, sabe?
- Como assim?
- Por exemplo: há alguns dias, antes de dormir, ela veio com um papo doido aí. Mandou eu dormir logo senão uma tal de Cuca ia vir me pegar. Mas eu nem sei quem é essa Cuca, pô. O que eu fiz pra essa mina querer me pegar? Você me conhece desde que eu nasci, já me viu mexer com alguém?
- Nunca.
- Pois é. Mas o pior veio depois. O papo doido continuou. Minha mãe disse que quando a tal da Cuca viesse, eu ia estar sozinho, porque meu pai tinha ido pra roça e minha mãe passear. Mas tipo, o que meu pai foi fazer na roça? E mais: como minha mãe foi passear se eu tava vendo ela ali na minha frente? Será que eu sou adotado, cara?
- Como assim, véio?
- Pô, ela deixou bem claro que a minha mãe tinha ido passear. Então ela não é minha mãe. Se meu pai foi na casa da vizinha, vai ver eles dois tão de caso. Ele passou lá, pegou ela e os dois foram passear. É isso, cara. Eu sou filho da vizinha. Só pode!
- Calma, maninho. Você tá nervoso e não pode tirar conclusões precipitadas.
- Sei lá. Por um lado pode até ser melhor assim, viu? Fiquei sabendo de umas coisas estranhas sobre a minha mãe.
- Tipo o quê?
- Ela me contou um dia desses que pegou um pau e atirou em um gato. Assim, do nada. Maldade, meu! Vê se isso é coisa que se faça com o bichano!
- Caramba! Mas por que ela fez isso?
- Pra matar o gato. Pura maldade mesmo. Mas parece que o gato não morreu.
- Ainda bem. Pô, sua mãe é perturbada, cara.
- E sabe a Francisca ali da esquina?
- A Dona Chica? Sei sim.
- Parece que ela tava junto na hora e não fez nada. Só ficou lá, paradona, admirada vendo o gato berrar de dor.
- Putz grila. Esses adultos às vezes fazem cada coisa que não dá pra entender.
- Pois é. Vai ver é até melhor ela não ser minha mãe mesmo... Ela me contou isso de boa, cantando, sabe? Como se estivesse feliz por ter feito essa selvageria. Um absurdo. E eu percebo também que ela não gosta muito de mim. Esses dias ela ficou tentando me assustar, fazendo um monte de careta. Eu não achei legal, né. Aí ela começou a falar que ia chamar um boi com cara preta pra me levar embora.
- Nossa, véio. Com certeza ela não é sua mãe. Nunca que uma mãe ia fazer isso com o filho.
- Mas é ruim saber que o casamento deles não está dando certo... Um dia ela me contou que lá no bosque do final da rua mora um cara, que eu imagino que deva ser muito bonitão, porque ela chama ele de 'Anjo'. E ela disse que o tal do Anjo roubou o coração dela. Ela até falou um dia que se fosse a dona da rua, mandava colocar ladrilho em tudo, só pra ele passar desfilando e tal.
- Nossa, que casamento bagunçado esse. Era melhor separar logo.
- É. só sei que tô cansado desses papos doidos dela, sabe? Às vezes ela fala algumas coisas sem sentido nenhum. Ontem mesmo, ela disse que a vizinha cria perereca na gaiola... já viu...essa rua só tem doido...
- Ixi, cara. Mas a vizinha não é sua mãe?
- Putz, é mesmo! Tô ferrado de qualquer jeito.



Autor desconhecido (recebido por e-mail)