terça-feira, 10 de agosto de 2010

UMA HISTÓRIA REAL: UM DESEQUILÍBRIO CAUSADO PELA MELHOR DAS INTENÇÕES

Bornéu é uma grande ilha da Indonésia, localizada no Oceano Pacífico, mais ou menos entre a Austrália e a China e próxima a outras grandes ilhas como Java e Sumatra. Seu clima é tropical, a vegetação é constituída de muitos coqueiros e os nativos vivem em casas construídas de madeira, palha e folhas de coqueiros, semelhantes às casas dos nativos que vivem aqui na América tropical.

Lá pelo ano de 1960 a OMS (Organização Mundial da Saúde), desejando combater os pernilongos que transmitem a malária aos habitantes da ilha, decidiu fazer uma grande aplicação de inseticidas. Usando aviões e outros equipamentos, aplicou verdadeiras nuvens de DDT em todo o território, abrangendo matas, plantações, casas etc.

O primeiro resultado observado foi magnífico! Morreram, praticamente, todos os pernilongos da ilha, e seus habitantes viram-se livres não só da malária, mas também daquelas picadas incômodas que sofriam à noite, em suas casas, ou mesmo de dia, nas sombras dos bosques. Mas algumas coisas estranhas começaram a acontecer em todo o território de Bornéu.

Infelizmente, o DDT não matava apenas os pernilongos. Matava, também, outros insetos, como abelhas, besouros, baratas etc. Alguns desses não chegavam a morrer, mas ficavam meio tontos e incapazes de se esconder com rapidez quando atacados pelos... Lagartos de Bornéu! Aconteceu que o lagarto de Bornéu é um grande comedor desses insetos maiores _ besouro e baratas _ e agora, tendo alimento tão fácil de apanhar, todos eles fartaram-se de comer insetos e apanharam uma bela indigestão!

A verdade é que os lagartos não sabiam que aqueles insetos estavam envenenados... e, comendo-os, ficaram, também, meio paralisados, sem poder correr e, portanto, sem poder fugir dos gatos! Desse modo, os gatos passaram a contar com um novo petisco que nunca haviam provado antes: deixaram de perseguir seus ratos e passaram a se alimentar de carne de lagarto. Naturalmente, carne envenenada... Cada lagarto tendo comido centenas de insetos, já acumulava, em seu corpo, uma grande quantidade de DDT.

Conseqüentemente, cada gato, comendo cinco ou dez lagartos, adquiria uma dosagem fatal: e morria!

É natural que, morrendo os gatos, os ratos passassem a proliferar abundantemente. Bornéu passou a sofrer de uma verdadeira invasão desses roedores. Alarmados, os técnicos da OMS providenciaram rapidamente uma grande remessa de gatos para a ilha, restabelecendo rapidamente o controle da situação.

Mas aí é que veio o pior: as casas dos nativos, construídas de ripas e palhas de coqueiros, começaram a cair! O assunto foi logo estudado pelos especialistas da OMS, que descobriram o seguinte: existe um inseto _ uma espécie de “baratinha” que se alimenta vorazmente de palha de coqueiro. Só que, normalmente, esse inseto não atingia números muito grandes porque o lagarto de Bornéu não deixava: ele gostava muito de comer essas baratinhas. Com o desaparecimento do lagarto, esses insetos não tinham mais limites à sua reprodução, e comiam toda a palha de coqueiro que encontravam pela frente!

A OMS não teve outra solução: procurou, nos continentes, outro tipo de lagarto semelhante àquele de Bornéu e transportou-o em grande número para a ilha.

(Samuel M. Branco. Natureza e agroquímicos. São Paulo, Moderna, 1990. p. 8-12)

O homem que espalhou o deserto

Quando menino, costumava apanhar a tesoura da mãe e ia para o quintal, cortando folhas das árvores. Havia mangueiras,abacateiros, ameixeiras, pessegueiros e até mesmo jabuticabeiras. Um quintal enorme, que parecia uma chácara e onde o menino passava o dia cortando folhas. A mãe gostava, assim ele não ia para a rua, não andava em más companhias. E sempre que o menino apanhava o seu caminhão de madeira (naquele tempo, ainda não havia os caminhões de plástico, felizmente) e cruzava o portão, a mãe corria com a tesoura: tome, filhinho, venha brincar com as suas folhas. Ele voltava e cortava. As árvores levavam vantagem, porque eram imensas e o menino pequeno. O seu trabalho rendia pouco, apesar do dia-a-dia, constante, de manhã à noite.


Mas o menino cresceu, ganhou tesouras maiores. Parecia determinado, à medida que o tempo passava, a acabar com as folhas todas. Dominado por uma estranha impulsão, ele não queria ir à escola, não queria ir ao cinema, não tinha namoradas ou amigos. Apenas tesouras, das mais diversas qualidades e tipos. Dormia com elas no quarto. À noite, com uma pedra de amolar, afiava bem os cortes, preparando-as para as tarefas do dia seguinte. Às vezes, deixava aberta a janela, para que o luar brilhasse nas tesouras polidas.



A mãe, muito contente, apesar de o filho detestar a escola e ir mal nas letras. Todavia, era um menino comportado, não saía de casa, não andava em más companhias, não se embriagava aos sábados como os outros meninos do quarteirão, não freqüentava ruas suspeitas onde mulheres pintadas exageradamente se postavam às janelas, chamando os incautos. Seu único prazer eram as tesouras e o corte das folhas.



Só que, agora, ele era maior e as árvores começaram a perder. Ele demorou apenas uma semana para limpar a jabuticabeira. Quinze dias para a mangueira menor e vinte e cinco para a maior. Quarenta dias para o abacateiro que era imenso, tinha mais de cinqüenta anos. E seis meses depois, quando concluiu, já a jabuticabeira tinha novas folhas e ele precisou recomeçar.



Certa noite, regressando do quintal agora silencioso, porque o desbastamento das árvores tinha afugentado pássaros e destruído ninhos, ele concluiu que de nada adiantaria podar as folhas. Elas se recomporiam sempre. É uma capacidade da natureza, morrer e reviver. Como o seu cérebro era diminuto, ele demorou meses para encontrar a solução: um machado.



Numa terça-feira, bem cedo, que não era de perder tempo, começou a derrubada do abacateiro. Levou dez dias, porque não estava habituado a manejar machados, as mãos calejaram, sangraram. Adquirida a prática, limpou o quintal e descansou aliviado.



Mas insatisfeito, porque agora passava os dias a olhar aquela desolação, ele saiu de machado em punho, para os arredores da cidade. Onde encontrava árvore, capões, matos atacava, limpava, deixava os montes de lenhas arrumadinhos para quem quisesse se servir. Os donos dos terrenos não se importavam, estavam em vias de vendê-los para fábricas ou imobiliárias e precisavam de tudo limpo mesmo.



E o homem do machado descobriu que podia ganhar a vida com o seu instrumento. Onde quer que precisassem derrubar árvores, ele era chamado. Não parava. Contratou uma secretária para organizar uma agenda. Depois, auxiliares. Montou uma companhia, construiu edifícios para guardar machados, abrigar seus operários devastadores. Importou tratores e máquinas especializadas do estrangeiro. Mandou assistentes fazerem cursos nos Estados Unidos e Europa. Eles voltaram peritos de primeira linha. E trabalhavam, derrubavam. Foram do sul ao norte, não deixando nada em pé. Onde quer que houvesse uma folha verde, lá estava uma tesoura, um machado, um aparelho eletrônico para arrasar.



E enquanto ele ficava milionário, o país se transformava num deserto, terra calcinada. E então, o governo, para remediar, mandou buscar em Israel técnicos especializados em tornar férteis as terras do deserto. E os homens mandaram plantar árvores.E enquanto as árvores eram plantadas, o homem do machado ensinava ao filho a sua profissão.



(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem que espalhou o deserto. In: Cadeiras proibidas. 2.ed. Rio de Janeiro, Codecri, 1979.p.78-80)

Eu sei, mas não devia

Marina Colasanti


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.


A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.


A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.


A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.


A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.


A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.


A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.


A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.


A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


(1972)

O arquivo

Victor Giudice


No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos.


joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.


No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor.


Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição.


Dois anos mais tarde, veio outra recompensa.


O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial.


Desta vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento.


Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.


Agora joão acordava às cinco da manhã. Esperava três conduções. Em compensação, comia menos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos rosada. O contentamento aumentou.


Prosseguiu a luta.


Porém, nos quatro anos seguintes, nada de extraordinário aconteceu.


joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Torturava-se com a incompreensão do chefe. Mas não desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diárias.


Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi chamado ao escritório principal.


Respirou descompassado.

— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívida com o senhor.

joão baixou a cabeça em sinal de modéstia.


— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso reconhecimento.


O coração parava.


— Além de uma redução de dezesseis por cento em seu ordenado, resolvemos, na reunião de ontem, rebaixá-lo de posto.


A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam.


— De hoje em diante, o senhor passará a auxiliar de contabilidade, com menos cinco dias de férias. Contente?

Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteligível, cumprimentou a diretoria, voltou ao trabalho.

Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu pacífico, no silêncio do subúrbio.


Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não havia necessidade de muita roupa. Eliminara certas despesas inúteis, lavadeira, pensão.


Chegava em casa às onze da noite, levantava-se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e dois ônibus para garantir meia hora de antecedência. A vida foi passando, com novos prêmios.


Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois por cento do inicial. O organismo acomodara-se à fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não tinha mais problemas de moradia ou vestimenta. Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, cobria-se com os farrapos de um lençol adquirido há muito tempo.

O corpo era um monte de rugas sorridentes.


Todos os dias, um caminhão anônimo transportava-o ao trabalho. Quando completou quarenta anos de serviço, foi convocado pela chefia:

— Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários.


O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira todos os objetivos. Tentou sorrir:


— Agradeço tudo que fizeram em meu benefício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.

O chefe não compreendeu:

— Mas seu joão, logo agora que o senhor está desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses terá de pagar a taxa inicial para permanecer em nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?

A emoção impediu qualquer resposta.

joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumanizaram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas arestas. Tornou-se cinzento.

joão transformou-se num arquivo de metal.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Produção textual: Retorno das férias

Objetivos: Interação da turma, observação da escrita e da expressão oral para se ter uma análise do desempenho da turma no início do ano; trabalhar a criatividade na produção textual; exercitar palavras que normalmente geram problemas de ortografia.


Conteúdo: Produção textual, expressão oral

Métodos/ Estratégias: O professor deve propor um texto que todos devem escrever ao mesmo tempo. A temática será: o que você fez nas férias. Os alunos devem então iniciar a introdução de sua história e mais ou menos de dois em dois minutos o professor escreverá no quadro uma palavra preferencialmente que contenha alguma dificuldade de ortografia, a qual deverá ser introduzida na história ainda que não fizesse parte da narrativa que o aluno está predisposto a escrever. Cada palavra ficará exposta no quadro, no máximo por um minuto, sendo imediatamente apagada. São aconselhadas cerca de 10 palavras. Ao final, será pedido para que todos dêem um desfecho à história. Cada aluno terá de ler para o restante da classe a sua criação. Além disso, a narrativa deverá ser entregue à professora para avaliação.

Recursos didáticos: Papel e caneta, quadro-negro.

Avaliação: Será analisada a capacidade de expressão oral do aluno, bem como o nível lingüístico em que se encontra no quesito produção textual, no qual serão levados em conta aspectos como coesão e coerência, estrutura frasal e textual, adequação semântica, ortografia e pontuação.

Variações: Caso o professor esteja disposto a trabalhar somente a criatividade do aluno na produção textual, poderá, ao invés de escrever as palavras no quadro, apresentar gravuras ou objetos.